5 de junho de 2010

insone

já eram cinco da manhã quando percebi que não conseguiria dormir, resolvi acender um cigarro, a última bolacha do pacote, enquanto o galo da rua de trás da minha casa cantava ao receber os raios primevos do sol. chovia manso, mas agora só gotas esparsas batem em minha janela em estalos, posso ouvir algum canto de pássaro e o roncar de meu cachorro, ruídos que compartilham minha insônia. os pensamentos brotam, nada inventivo, não estou disposto a me levantar e pegar a caneta e a folha em branco para desenhar, como se isso fosse um esforço profissional que desejei para meu futuro, quero tragar o cigarro e soltar caracóis de fumaça sobre meus olhos observando seu desfazer-se antes de tocar o teto branco e poroso do quarto. não há ninguém aqui comigo para reclamar. imagino como seria se esse sol que agora renasce trouxesse um pouco de ordem a minha vida tão bagunçada. não cumprirei os prazos de minhas obrigações mais uma vez e com isso decepcionarei metade das pessoas que ainda têm um apresso pela minha pessoa e que comentarão em rodas fortuitas o meu comportamento um tanto quanto estranho ao longo desses últimos meses. infelizmente, amigos, as novas não são tão boas como desejamos. o misto de rotina e mudança é o paradoxo do caos, e esperar tanto de uma simples pessoa tão incrédula como eu nesses últimos tempos é tolice. ouço o barulho de uma buzina de trem ao longe, mas não sei se ainda passam trens por aqui. posso estar delirando, talvez fosse melhor fazer meio litro de café se meu intento for mesmo ficar acordado. não sei mais qual é meu intento. se tudo fosse fácil como nos manuais televisivos eu já estaria dormindo, acordaria cedo, arrumaria meu quarto e lavaria a louça suja a dias. compraria pão para o desjejum, compraria também flores para a primeira garota bonita que encontrasse na rua, ela se apaixonaria por mim, com o tempo eu me apaixonaria por ela, casaríamos e teríamos um casal de filhos bem sucedidos. mas esta insônia não me deixa dormir para levar a cabo planos tão superficialmente concretos. se eu fosse um músico criaria uma canção sobre isso e venderia seus direitos para a mais nova banda pop do momento, uma canção com arranjos de violino que traria um salto qualitativo indispensável aos novos hits das rádios, viraria música tema central do par romântico juvenil da novela das oito e com um gabarito assim eu poderia até escrever um livro de poemas a ser lançado pela maior editora do país, distribuído em todas as lojas de conveniência nos postos de gasolina de beira de estrada. mas passo longe de ser um bom músico já que mal decorei a escala de lá maior. um bocejo depois de horas, talvez a insônia esteja abrindo uma brecha, ou talvez seja apenas uma piada com minha mente. os olhos lacrimejam e me imagino chorando por pouca coisa, dores escondidas no íntimo do meu peito carregado de fumaça. acho que eu queria alguém sentado ao meu lado para compartilhar pensamentos, desejos, risos, ou qualquer outra coisa que viesse as nossas cabeças. ou então, apenas alguém para se deitar junto e que quando amanhecesse eu pudesse desejar um bom dia encostando meus lábios no lóbulo da orelha direita. a dois a cama é menor e facilita o sono. a dois passar a noite acordado pode ser delicioso. a chuva aperta seus pingos, dejeto das nuvens, começo a pensar em palavras sujas para me expressar, creio que é a falta de vocabulário trazida pela ineficiência de minhas leituras atuais. falta concentração. se o cigarro acabou e a luz já tinge de azul as formas molhadas nas ruas desertas, talvez tenha chegado a hora de cair nos braços de orfeu enquanto os sons dos pássaros não se tornam ensurdecedores. não vou apagar a luz do quarto. bom dia.

3 comentários:

  1. Batata. Véio, gosto mais do seus quadrinhos. Mas é isso: somos livres pra fazermos o que quisermos, hehehehehehe
    Saudade, maninho...

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  2. jao... isso eh uma bronca... c sabe q eu gosto de escrever
    hqhhahaahhahaha

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